Uma panela de pressão prestes a explodir: entenda sobre a Síndrome de Burnout, que afeta mais de 33 milhões de brasileiros
Quem nunca ouviu o bordão “meu nome é trabalho” na boca de quem justifica a dedicação excessiva a carreira profissional, que atire a primeira pedra! Diferente do que pode ser entendido como ansiedade e depressão, a Síndrome de Burnout é um quadro de estresse crônico e de esgotamento psicológico, que leva o colaborador à um estado de estafa mental, o tornando incapaz de exercer suas atividades laborais com a proatividade necessária.
De acordo com o Ministério Público do Trabalho, entre os anos de 2019
e 2020, houve um crescimento de 30% nos pedidos de auxílio-doença por
trabalhadores com transtornos psicológicos. Já no ano de 2021, segundo uma
investigação realizada pela LHH (Lee Hecht Harrison), do Grupo Adecco, 38% das
pessoas que foram entrevistadas afirmam terem sido afetadas pela doença nesse
mesmo ano. Dessas mesmas pessoas, 32% relatam uma piora considerável da saúde
mental.
Desmotivada a continuar em um ambiente de pressão constante, Silvia
Regina Aparecida Silva, de 46 anos, foi afastada do trabalho em meio à pandemia
e diagnosticada com depressão no ano passado. A enfermeira relata como a
situação em que estava no trabalho atrapalhou sua produtividade na empresa,
além da relação complicada com quem tinha lá dentro: “A pressão que sentia lá
acabava por virar um estresse diário. O motivo é porque acabava negando fazer
algo que não concordava, pois não estaria dentro das normas estabelecidas”,
relata, se referindo ao COREN – Conselhos Regionais de Enfermagem. “Minha
relação profissional com o meu chefe não era boa, e ele era o dono da empresa,
inclusive. Então, dá pra imaginar a quão pressionada eu era”, lamenta.
Infelizmente, a história da Silvia não é uma exceção. É cada vez mais
comum vermos profissionais estressados e pressionados pela busca constante, e
sem fim, de bons resultados. Ainda que a Síndrome de Bornout não tenha como
principal sintoma a depressão, existe uma linha tênue que separa esses
diagnósticos, visto que o trabalho pode, sim, levar uma pessoa ao seu limite. A
boa notícia é que ela foi oficialmente reconhecida e oficializada em 1º de
janeiro de 2022 como uma doença ocupacional, conforme a nova classificação da
Organização Mundial da Saúde (OMS). A síndrome, também conhecida por
esgotamento profissional, tem como características principais a tristeza,
irritabilidade, dores musculares e de cabeça, lapsos de memória, apatia,
excesso ou falta de sono e de fome.
“De certa forma, ficar afastada da empresa foi bom, pois
eu tinha pavor de estar nela. Não realizava mais as coisas como antes, me sentia
uma barata tonta”, brinca a enfermeira. O caso dela, por mais que seu
diagnóstico, conforme o CID – Classificação Internacional de Doenças, tenha
sido de depressão na época, nos faz pensar o que um ambiente organizacional
doente pode fazer com o trabalhador. “Chega em um ponto que você se sente
incapaz, não tem jeito”, completa frustrada.
Atualmente, a exaustão é um dos problemas cada vez mais recorrentes no
mercado de trabalho. Segundo o que aponta uma pesquisa feita pela Microsoft,
houve um aumento de 44% de esgotamento profissional entre os brasileiros. E um
dos agentes potencializadores desse crescimento foi a má adaptação ao home
office, como explica Gabriela Cristina de Lima Pilta, psicóloga clínica que
afirma que há uma falsa sensação de liberdade criada pelos trabalhadores que
migram para o home office, por acreditarem ter mais tempo e a não necessidade
de sair de casa para realizar as atividades.
“Isso se torna uma concepção errônea a longo prazo, que abre um leque
ainda maior de possibilidades para que o colaborador trabalhe ainda mais. E o
ambiente que antes servia como local de descanso, um lugar acolhedor para se
relaxar, se transforma literalmente em um ambiente de trabalho, por serem o
mesmo. Diante disso, como seria possível descansar e se desconectar totalmente
do trabalho, se o indivíduo ainda estiver imerso nele?”, provoca o pensamento.
Nesses casos, ocorre um desfavorecimento grande para as empresas pela
má colaboração e participação de quem a integra. E para isso ser evitado, é necessário
que sejam tomadas algumas medidas para evitar tal adversidade, como ações e
programas de prevenção à síndrome. “É possível identificar pequenos
comportamentos que indicam que o indivíduo está desenvolvendo essa síndrome, na
qual, na maioria das vezes, não é necessário esperar até que se tenha algum
diagnóstico médico para adotar novos hábitos e medidas preventivas”, adverte a
psicóloga clínica.
Como tomar medidas preventivas
Por meio da prevenção, é necessário que as empresas estejam aptas a
terem uma boa comunicação e projetarem um ambiente saudável para todos os
colaboradores. Inclusive, promover reuniões semanais com a equipe é uma medida
eficiente, tanto para gerir uma melhor relação interpessoal, quanto para
definir objetivos que sejam atingíveis entre os colaboradores, poupando o
estresse por demandas desorganizadas e mantendo um ambiente orgânico e
proativo. Também é importante que o líder esteja aberto a ouvir com atenção a
situação de cada colaborador, a fim de gerenciar as atividades de forma que
proporcione melhorias para toda a equipe.
Além disso, situações em que os funcionários estejam excedendo o
limite de tempo do trabalho, acaba por fazer com que percam a qualidade de sono
e o tempo de lazer, exatamente o que precisam para tirar o trabalho da mente e
evitar o estresse diário. “Quando algum colega de trabalho, ou um conhecido,
estiver sendo negativo em excesso, apresentando baixo desempenho e
produtividade, dificuldade em se concentrar ou memorizar, insônia, ansiedade,
distúrbios alimentares, isolamento, insegurança ou baixa estima, oriente para
que procure ajuda profissional o quanto antes”, finaliza a psicóloga.
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